"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove". Fernando Sabino
Há quem defenda que somos frutos do nosso meio e que em nada podemos alterar nosso destino. Mas, basta um olhar um pouco mais atento sobre nossas escolhas passadas, para percebemos o quanto elas tiveram o poder de definir nosso presente.
Essa liberdade para decidir tem um preço. Como toda ação provoca uma reação, uma vez feita a escolha, não escapamos de suas consequências, boas ou ruins. É obvio que nem tudo na vida precisa ser tão definitivo. Algumas decisões erradas podem ser consertadas facilmente, outras, no entanto, criam uma cascata de alterações negativas, o chamado "efeito borboleta", que pode mudar todo o rumo de uma história. Mas, ainda assim, é possível escapar da tragédia anunciada, promovendo pequenas mudanças ou, ainda, simplesmente, nos deixando ser salvos por algumas circunstâncias.
No livro O Poeta e o Guarda-chuva, de Ricardo Tagliaferro, editora Letramento, o personagem principal trilha caminhos tortuosos, que fatalmente o levarão à derrocada, restando-lhe, apenas, ser salvo pela sua arte, a poesia... Se ele assim permitir.
Na história, Vicent, que foi batizado assim por sua mãe, em homenagem ao pintor holandês Vicent Van Gogh, vive de forma bastante instável. Experimentou grandes amores e se perdeu em todos eles, angustiado com as dúvidas que lhe faziam beirar a insanidade.
O poeta, de temperamento forte e alma cética, tenta se manter dentro dos parâmetros morais e racionais comuns, mas sempre flertando com o lado obscuro, através de seus instintos e paixões, por vezes, incontroláveis. E, diante das dicotomias, é aconselhado por uma voz misteriosa que o acompanha por toda vida, tentando guia-lo pelos melhores caminhos.
Por seu talento, Vicent pode se tornar um grande artista, reconhecido e reverenciado na posteridade. No entanto, por suas decisões, seu fado pode ser a escuridão e o esquecimento.
O Poeta e o Guarda-chuva é um romance incrível, com drama desenvolvido de modo poético, mas muito realista. Seus personagens são críveis e sua história tão sincera, que poderia ser a de qualquer um de nós, responsáveis, que somos, por nossa próprias escolhas.
Sobre o autor:
Ricardo Tagliaferro nasceu em Pindamonhangaba (São Paulo), em 1992. Amante de fotografia e da produção editorial, publicou os livros "O poeta e o guarda-chuva", "100 cartas de uma saudade" e "18 anos de solidão". Participou de antologias poéticas no Brasil e em Portugal, além de participar como autor e organizador das coletâneas de poesias "Depois das 11" e "Café e Prosa". Desconcertos é sua estréia no gênero contos.
Trecho do livro: “A voz a moça ecoava por toda a praça e Vicent se viu encurralado enquanto a salva de palmas ficava cada vez mais forte, e as pessoas o encaravam com um ar de respeito e admiração. Nascia ali um poeta. Um poeta que, acuado, correu para longe de tudo aquilo e fingiu que estava acordando de um sonho. A arte enfim o escolheu”.